Crônica Sobre A Influência de Tolkien

David César, 2025

Em solenidade do 52º aniversário da morte de Tolkien.

      A Mitologia, os contos de fadas e a Bíblia, são os reais percussores da Fantasia que teve sua ascensão nas obras de William Morris e George MacDonald, apenas então depois destes dois senhores, que propriamente existe “Fantasia” como gênero. Cerca de oitenta anos depois, que o professor Tolkien viria publicar algo semelhante em “O Hobbit”.

      Hoje, a indústria editorial americana é uma das razões consequentes de haver todos os meses, diversos novos livros de “fantasia” com milhares de subgêneros (de maioria não catalogados) e muito falado por jovens que ainda não perceberam que estão lendo mais uma história que nem chega de cruzar fronteira com o ridículo comum. A nossa era contemporânea não é desprovida de boas histórias, mas poderíamos seguir os concelhos dos antigos contemporâneos e elevar, buscar o que há de bom no que os clássicos deixaram nestes milhares de anos que a História se apresenta. Porém, tudo que há de popular no nosso mundo hoje, é regido pela ignorância de não vender o que é realmente bom e o avanço centenário dos ativismos que anulam o passado como um vilão. Mas o real problema é a comunicação exagerada no meio deste caos da década. Todos podem lançar sua opinião “viável” na mídia, o que dificulta a reciclagem do que é realmente verdade. Espalham as histórias que um dia, tal ou qualquer editor resolveu publicar porque sabia o que sua sociedade estava ansiando cada vez mais, a depravação e os jovens cada vez mais submissos ao sistema. Deram a eles um romance mal escrito e sem nenhum pingo de moralidade e acatamos isso. Portanto, hoje podemos matar nosso desejo do entretenimento proveniente da Natureza, no que está no topo de venda da Amazon ou das grandes livrarias.

       Seria eu, um completo ignorante e saudosista se não admitisse que há certos autores de Fantasia em atividade que são realmente bons, como é o exemplo de Patrick Rothfuss, autor do incrível “O Nome do Vento”. O tempo é relativo e de nada a Arte tem culpa nisso, mas em comparação ao século passado, abrigarmos três ou cinco autores “populares” que entenderam o segredo do imaginário é exorbitante! No meio de uma sociedade onde a “classe-média” era nova e o operário analfabeto rogava para não morrer de doença incurável ou da inalação tóxica das fábricas, as primeiras obras do gênero foram as de L. Frank Baum com “O Mágico de Oz” e T.H. White com os recontos arturianos. O século virou com uma bagagem enorme de C.S. Lewis, Ursula K. Le Guin, Tolkien e Marion Zimmer, fechando o ciclo com o sucesso de Harry Potter.

        Nos dias de hoje, as “fantasias” mais vendidas são as que em vez de propagar a beleza feérica com toda a bagagem do gênero, mancham o papel de pornografia élfica e romance mal escrito com as chamadas “inclusões sociais”. No meu eixo de livros prediletos há diversos contemporâneos, mas na Fantasia, com a exceção de Rothfuss e Eduardo Spohr não encontro gênios populares. Há uma ligação clara das boas histórias deste gênero divino, esta é sem sombra de dúvidas J.R.R. Tolkien.

         Minha homenagem à Tolkien não vai além da revolta, mas retorna em sua simplicidade. Não sou digno de me estender no Legendarium do professor, porém posso espalhar sua Cultura que me ajuda a entender o Ordinário todos os dias. Tolkien tinha pudor para criar o seu imaginário na beleza provida do Divino. Desde a infância estabeleceu um certo pacto com os ensinamentos cristãos por detrás dos contos de fadas e da mitologia introduzida por sua mãe, sua primeira musa. Já órfão, forçado pelos estudos na adolescência já se mostrava influente nos círculos literários que cria mais um forte laço de suas criações, a “Amizade”. Andrew Lang, clubes de chá, Mitologia Nórdica e cantos saxões provavelmente o formaram para o acadêmico em Oxford. No estopim da Primeira Guerra Mundial, Tolkien lutou no Exército Britânico o que gerou traumas, mais tarde transformados em grandes ensinamentos em toda a sua Cultura. O caos nas trincheiras, as poças de sangue na lama e a perda de um amigo próximo não o transformou em um veterano mórbido, mas em alguém que transpassou para sua escrita de cunho medieval. Com Edith, sua musa pianista, Tolkien criou seus filhos e de aventuras, línguas e amor sagrado vivia publicando seus escritos em vida e engavetando centenas de fragmentos que após sua morte viria ser as maiores contribuições para o seu Legendarium, publicados pelo seu próprio filho Christopher Tolkien. 

         O seu medievalismo e consciência fantasiosa moldaram sua própria mitologia, linguagem e poética. Assim como qualquer riqueza cultural, Tolkien não deu vida às obras do nada. Elas o acompanharam por todo o tempo, sendo talhadas por dificuldades do cotidiano, guerras e o principal desejo de ver a Beleza. E no início da década de 1970, no meio das mudanças do mundo ocidental e de acampamentos hippies invadindo o seu quintal, Tolkien deixou a Terra como o pai da Fantasia. Contribuições para a Literatura Inglesa, adaptações hollywoodianas como as maiores do século, inspiração desde cantos tipo-sacro até o Led Zeppelin, ótica cristã-medieval para enxergar o mundo são meros exemplos do que o nome “Tolkien” influenciou até agora.

          Descanse em paz eterno professor Tolkien e até um reino de fronteira Valinor.

(Quarta estrofe do poema “Markirya”)

“Man cenuva lumbor ahosta

Menel acúna ruxal’ ambonnar,

ëar amortala, undumë hácala,

enwina lúmë elenillor pella

talta-taltala atalantië mindonnar?”

“Quem verá as nuvens se juntarem,

os céus se curvando sobre colinas desmoronando,

o mar se erguendo, o abismo se abrindo,

a antiga escuridão além das estrelas

caindo sobre torres caídas?”

Escrito e transcrito do quenya por J.R.R. Tolkien

Traduzido por Gabriel O. Brum